quinta-feira, 31 de março de 2011

Carnaval 2011 por Anderson Machado

Quando escrevi Folião, às vésperas do carnaval, não tinha idéia que o verso final expressaria com tanta exatidão o sentimento presente no peito agora, passada a folia.
Nunca escondi de ninguém o quanto amo o Carnaval, mais ainda escola de samba e, mais especificamente, a Asfaltão. E neste ano fiquei ainda mais orgulhoso da minha Escola, fiquei feliz porque mais uma vez vi que a Família Asfaltão faz Carnaval por amor, amor à cultura, a Porto Velho, às nossas crianças, aos brincantes e ao público. Nossa Escola fez um desfile muito lindo, alegorias, fantasias, desfile compacto, cantando o samba com muita alegria, embalada pela excelente bateria Pura Raça.
Aliás, a Pura Raça merece um prêmio especial, afinal, foi a única bateria que saiu do “feijão com arroz”, da mesmice, fez paradinhas, evolução e coreografias de verdade, além do já conhecido show de competência no samba. Só a Pura Raça trouxe crianças tocando pra avenida, isto porque a Asfaltão é Escola de Samba e faz carnaval pras presentes e futuras gerações.
Na segunda-feira, fui prestigiar os desfiles Rádio Farol, São João Batista e Os Diplomatas do Samba. No desfile desta última aconteceu um triste imprevisto que prejudicou seriamente toda a passagem da escola. Quando a terceira alegoria iniciou seu desfile, muitos imaginaram que havia algo errado, afinal, o gelo seco que saia do caro dava a impressão de incêndio e o estranho movimento da alegoria encobria quase completamente os destaques, mas tudo bem (podia ser “estilo”), até que o tal carro alegórico desviou repentinamente para a direita e simplesmente travou, bem na frente do recuo da bateria. Foi um corre-corre geral, as alas que estava à frente do carro seguiram desfile e as outras ficaram para trás. Resultado? Um enorme buraco na escola. Neste instante, viu-se a tristeza e até um certo desespero estampado na face de muitos brincantes e até dirigentes da escola, pois era impossível, pensava-se, que os jurados de quesitos como Evolução, Alegorias e Adereços e Enredo – pra citar só três – tivessem coragem de dar nota maior que 8,0 (oito) pra Diplomatas do Samba. O intervalo entre as alas foi tão grande que teve gente pensando que o desfile era em dois atos..(rsrs). A contagem do enredo foi atrapalhada pela mudança da ordem das alas e alegorias. Deu pane geral na escola e só dez minutos depois que o terceiro carro quebrou, diretores da escola (e de outras) mandaram as alas que vinham atrás ultrapassá-lo, mais dez minutos e a bateria fez o mesmo, depois de ser, literalmente, atropelada pela alegoria; e, passados mais uns cinco minutos, tendo conseguido se desengatar dos cabos elétricos em que se enrolou, seguiu, totalmente fora de lugar, a terceira alegoria. Tudo isto filmado e registrado pra posteridade...
Todos, menos os jurados e a direção da FESEC, saíram da avenida na segunda-feira apontando a vitória da Asfaltão como certa, por tudo que aconteceu nos dois dias de desfile.
Na terça-feira, mais uma vez fiquei orgulhoso. Com a abertura dos envelopes com as notas, ficou evidente que algo de muito misterioso ocorrera, mas a reação da família Asfaltão foi a mais digna. Enquanto a turma beneficiada pela safadeza de alguns jurados estava envergonhada e sequer conseguia cantar o próprio samba-enredo (será que conheciam a letra?), ritmistas, brincantes de diversas alas e diretores da Asfaltão cantavam com todas as forças o samba-enredo da verdadeira campeã.
Por falar em jurados, estou convencido, das duas uma: ou assistiram um desfile completamente diferente daquele assistido por todas as outras pessoas ou foram convencido$ que “vale a pena ser vilão”.
É certo que o resultado declarado na terça-feira não permanecerá incólume, pois existem muitas provas do direcionamento feito para beneficiar a escola declarada campeã, porém, mais importante que o título, que o campeonato, é fazer a reflexão correta. É preciso que os envolvidos nos vergonhosos fatos que culminaram com as delirantes notas dadas pelos jurados, totalmente contrárias ao que se viu na avenida, pensem no que é mais importante, lembrem-se que o Carnaval é maior que todas as agremiações, todas as diretorias, é maior que qualquer projeto político pessoal. É preciso lembrar que pouco ou nada adianta vencer uma disputa se isto significa ter que rasgar os princípios da ética e ignorar o respeito ao público, aos brincantes, aos artistas e à própria expressão cultural que é o carnaval.
Ou desta vez faz-se uma assepsia total na organização do carnaval, especialmente na FESEC, ou corremos o sério risco de ver condenada à morte dolorosa, a mais comunitária e socialmente mobilizadora face do carnaval.
O momento de salvar o carnaval é agora!

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