Por Artur Quintela
Tenho  mantido o silêncio desde o encerramento do Carnaval. Não sou muito de  provocar celeumas. Mas não deixaria passar “barato” o deste ano.
É  mister, entretanto, esclarecer uma coisa. Antes que pensem que estou  “puxando a brasa pra minha sardinha” adianto que só tenho um time de  coração, só tenho uma escola de samba de coração e só tenho um bumbá de  coração.
Pode parecer estranho, mas a verdade é essa. Sou  Garantido, sou Flamengo e sou Mangueira. Costumo brincar fazendo um  arremedo de poesia para completar: “Sou feliz a vida inteira / Quando  não é um, é outro na dianteira”.
Aqui em Porto Velho, onde  cheguei no fim de 1961, conheci (ainda criança) o que seria a Escola de  Samba Diplomatas. Mas nunca tive além de boas amizades com os brincantes  e dirigentes, dentre eles o saudoso Leônidas, querido amigo e grande  sambista.
Ali também vim a conhecer Bainha, outro grande mestre  sambista, hoje idolatrado por toda a comunidade artística da Porto do  porto do rio.
Mas, voltando ao Rio de Janeiro para concluir os  estudos, voltei às barras de minha querida verde-e-rosa, sendo  frequentador assíduo do Buraco Quente, onde tive o prazer de estar junto  com Mestre Cartola, Dona Zica, Beth e outras personalidades de nosso  samba. Ali, tendo Mestre Delegado ao lado, na quadra (ainda descoberta)  aprendi alguns passos de Mestre Sala criados pelo próprio e que se  tornaram “obrigatórios” para os discípulos que queriam representar a  mais tradicional de todas as escolas de samba que conheci.
Nunca  fui sambista dos bons, mas sei “dizer no pé” algumas frases e não me  inibo quando tenho que demonstrar, tudo pelo grande carinho que sempre  tive e tenho pela Mangueira.
Ao voltar para Porto Velho (1972)  meu papo com o samba local era raro, tendo feito algumas composições – a  pedido ou por provocação – que nunca foram, de verdade, para o asfalto.  Fiquei mais no repertório que me fizera músico na Cidade Maravilhosa –  Jovem Guarda.
De uns tempos para cá, coisa de poucos anos,  conheci uma turma que se fazia cercar por velhos companheiros das rodas  de samba – sempre regadas a um bom trago. A convite do amigo Silvio  Santos fui à inauguração da Toca do Tigre – na realidade uma  re-inauguração do Bar do Chulé.
Lá chegando fui recebido com  auêês no microfone, bem mandado por Jair Monteiro, Oscar Knightz, Ênio,  Chiquinho do Cavaco (meu amigo Chico Mendes), dentre outros. Nem sabia  direito onde estava entrando, mas cheguei, sentei e curti um repertório  de samba da melhor qualidade.
Nesse fui chegando, fui chegando e  fui ficando... acabei conhecendo a Família Asfaltão. Não a Escola de  Samba Unidos do Asfaltão. A FAMÍLIA ASFALTÃO.  Presidida pela amigo  Reginaldo, ex-companheiro de Banco do Brasil, filho do amigo Campos  e  Dora, ex-companheiros da MIBRASA, a Escola tinha (e tem) muito mais de  família do que de uma tradicional escola de samba.
Com carinho e  respeito fui recebido e, da mesma maneira, tenho retribuído a todos os  que lutam pela grandiosidade do samba e do carnaval naquela família.
E é em nome desse carinho que me sobe a indignação.
Ano  passado, após o julgamento dos quesitos na avenida, algumas reclamações  surgiram por parte dos que perderam o campeonato, dentre todos, a  Asfaltão. Estive na Tenda e conversei com todos. O que mais me espantava  é que, mesmo sentindo-se pilhados, os dirigentes e brincantes mantinham  a serenidade e – para pasmar – grande felicidade pelo desfile  realizado. Naquela época, lembro bem, o adereço da cabeça da  porta-estandarte havia caído e nenhum dirigente procurou sanar o  problema, tendo sido a escola prejudicada em mais de um ponto pelos  jurados que lhe atribuíram notas. Conversa vai, conversa vem, assumiu-se  ali, ainda na euforia do carnaval, um compromisso para o ano seguinte:  fazer um desfile ainda melhor.
Havia votos contrários, claro. A  Asfaltão ficara com dívidas em virtude do Governo do Estado haver se  negado a contribuir com o pactuado anteriormente.  Também havia a  questão de uma jurada que seria familiar do presidente de outra escola e  que estava na cronometragem...
Mas, a serenidade prevaleceu e o samba tomou conta do ambiente, enchendo a todos de alegria.
Um  ano passou-se... Um ano inteiro de projetos, planejamento, quitação de  dívidas antigas e assunção de novas... escolha do tema, contratação de  profissionais da arte... composição do samba-enredo... tudo nos  conformes...
Aí veio o desfile.
Fui no primeiro dia. No segundo não fui. Daí a razão para ter ficada tanto tempo quieto, sem manifestar-me.
Ora,  em 2010, os dirigentes e brincantes da Diplomatas estavam ao meu lado  na hora da Asfaltão. E ficaram boquiabertos com o desfile apresentado.  Luzes, música, samba, bateria... destaques... tudo dava certo, exceto o  capacete da porta-estandarte... e perdeu-se o troféu de campeã.
Então...  em 2011 nada daquilo podia acontecer. E não aconteceu. O desfile da  Asfaltão foi lindo, simplesmente, exuberante. Cores e luzes na medida  certa. Samba-enredo nota dez. Destaques, idem.
Então... a  arqui-rival teria que vir com muito mais. E aí, não entro no mérito. Não  assisti ao desfile da Diplomatas. Não poderia atribuir-lhe uma nota  sequer. Estava em outro compromisso que me tomou todo o dia, entrando  pela noite.
Mas veio a notícia. Uma das alegorias da vermelho e  branco quebrara. Truncara todo o desfile. Prejudicou a evolução. Não  houve harmonia. As alas deixaram buracos, como se dispersas estivessem. O  desespero tomara a Avenida dos Imigrantes. Até autoridades foram pra  pista para ajudar a escola a “desembaraçar o carro”.
Nada contra a  escola do amigo Eufrásio. Mas, a cidade inteira comentou o que saiu na  mídia escrita, falada, televisionada: A Diplomatas seria penalizada em  alegoria, harmonia, evolução... no mínimo. Um ponto, cada. Ainda havia o  quesito enredo. Atrapalhado bastante, já que a sequencia das alas foi  alterada (previsto no regulamento para penalização).
E... Diplomatas recebeu nota máxima exatamente nestes quesitos. E ganhou o título pela quarta vez seguida.
Lembrou-me  Rica Perrone e o caso da Taça das Bolinhas. Irritado com os dirigentes  de seu clube (principalmente Juvenal) que recebera o troféu o jornalista  (são-paulino roxo) esbravejou que não estavam honrando o esporte, mas  sim, preocupados com seu próprio clube. Que o Esporte se danasse.
Assim  me parece, hoje, infelizmente, o Carnaval das Escolas de Samba de Porto  Velho.  Foi colocado o critério da entidade acima do carnaval  municipal.
Por que dois pesos e duas medidas? A Asfaltão mereceu ser penalizada e a Diplomatas não?
Já diziam as crônicas e artigos, antes do carnaval: "O Presidente da FESEC não sai do Barracão da Diplomatas!"
Da  mesma que em 2010, os dirigentes de outras agremiações ameaçaram  desfiliar-se da Federação. Coisa que não acredito muito que venha a  ocorrer. Pelo menos, não, pela Asfaltão. A dignidade de seus dirigentes e  simpatizantes é muito superior. Superior a todos estes atropelos.
Mas causa-me pena a situação do Carnaval. Será que vale mais uma entidade do que o próprio evento?
Fica a pergunta.
E mais outra: Em 2012 a Diplomatas vai ser Penta? Vai receber uma taça de bolinhas também????
Eu heinnn................
Artur Quintela Gomes
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